terça-feira, 15 de maio de 2007

SOBRE O ÓCIO - Bertrand Russel


Russel acredita que os momentos de despreocupação e diversão são especialmente importantes na educação dos jovens. Sem eles, as crianças se tornam apáticas, infelizes e destrutivas e perdem o gosto por objetivos mais amplos e profundos. Oportunidades contínuas de auto-expressão são igualmente importantes para a população adulta, pois permitem ao indivíduo avaliar a qualidade de sua experiência, bem como o valor do próprio conhecimento. O ócio proporciona a apreciação do valor intrínseco do conhecimento.
Para a maioria das pessoas, esse tipo de experiência, o ócio, não é uma opção realista à sua disposição. Elas não têm tempo nem dinheiro para estar por aí em busca de conhecimento “inútil”. São prisioneiras daquilo que Russel chama de “o culto da eficiência”, que só valoriza o conhecimento pelos benefícios econômicos e pelo aumento do poder sobre as outras pessoas que ele pode proporcionar. Os felizardos que têm recursos para o ócio tendem a desprezá-lo em favor de um gênero de “ação enérgica” que gera um controle ainda maior, mas pouco ou nenhum entendimento ou reflexão acerca dos objetivos mais amplos da vida. Russel considera nociva esta visão “instrumental” do conhecimento, pois ela só dá valor às suas conseqüências, não às suas razões subjacentes. Conseqüentemente, a riqueza e o poder são tidos em alta conta, ao passo que o ócio e o conhecimento contemplativo são considerados apenas como dispersão inútil.
A solução proposta por Russel para esse problema, considera que o ócio poderia ser hoje acessível a toda a população, se o trabalho passasse por uma reestruturação baseada nas possibilidades abertas pelos modernos métodos de produção. Além de desejável, o ócio é um estado ao qual a maioria das pessoas poderia ter acesso, bastando que fosse mais valorizado do que as ocupações produtivas, largamente instrumentais, de que é feita a jornada de trabalho. A tecnologia moderna possibilita uma jornada de trabalho de quatro horas diárias, sem redução de salários e sem extinção de postos de trabalho. Uma vez libertos da tirania do trabalho, homens e mulheres poderiam ser livres para se dedicarem a atividades de seu exclusivo interesse. Mesmo admitindo-se que alguns iriam usar esse tempo livre para ganhar mais dinheiro e aumentar seu poder sobre os demais, acredita que essa tendência seria contrabalançada pelo numero ainda maior de pessoas que optariam por atividades mais reflexivas, ou pelo engajamento em diversos tipos de trabalho comunitário.
Para Russel, o trabalho não é o objetivo da vida. Se fosse, as pessoas gostariam de trabalhar. No entanto, aqueles que de fato executam o trabalho evitam-no sempre que possível. Os únicos que alardeiam as suas virtudes são as pessoas em posição de comandar o trabalho alheio. Se o ócio, a diversão e o desfrute do conhecimento contemplativo fossem valorizados por si mesmos, as propostas de reforma de Russel poderiam ser instituídas e seu propósito é lutar por um mundo em que todas as pessoas possam se engajar livremente na busca de atividades “agradáveis, compensadoras e interessantes”.
Em nossa sociedade, o indivíduo trabalha pelo lucro, mas a finalidade social do seu trabalho reside no consumo daquilo que ele produz. A separação dos fins individuais e os fins sociais da produção é que torna tão difícil pensarmos com clareza num mundo em que a busca do lucro constituí o único incentivo ao trabalho. Pensamos demais na produção e de menos no consumo. Por isso acabamos dando pouca importância ao desfrute e à felicidade e deixamos de avaliar a produção pela satisfação que ela proporciona ao consumidor.
Num mundo em que ninguém tenha de trabalhar mais de quatro horas diárias, todas as pessoas poderão saciar a curiosidade científica que carregam dentro de si. Acima de tudo haverá felicidade e alegria de viver, em vez de nervos em frangalhos, fatiga e má digestão. O trabalho exigido será suficiente para tornar agradável o lazer, mas não levará ninguém a exaustão. E como não estarão cansadas nas horas de folga, as pessoas buscarão diversões mais participativas e menos passivas ou monótonas. Homens e mulheres comuns, tendo chance de viverem vidas felizes, se tornarão mais afáveis e menos desconfiados. O gosto pela guerra desaparecerá, em parte por esse motivo, em parte porque a guerra implicará trabalho longo e penoso para todos. Dentre todas as qualidades morais, a boa índole é aquela que o mundo mais precisa, e ela é o resultado da segurança e do bem-estar, não de uma vida de luta feroz.
A possibilidade existe, mas apesar disso, continuamos preferindo o sobretrabalho para alguns e a penúria para os demais. Ainda somos tão energéticos quanto éramos antes de existirem as máquinas. Nesse aspecto, temos sido tolos, mas não há razão para sermos tolos sempre.
“A idéia de que as atividades desejáveis são aquelas que dão lucro constitui uma completa inversão da ordem das coisas.”

Compilado da Obra:
RUSSEL, Bertrand. O Elogio ao Ócio. 3.ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2002.

3 comentários:

Rosy disse...

Que maravilha seu poemas,você realmente tem talento para poemas,continue assim, seu poemas são muito belos, meus parabens, beijos de sua amiga.

Rosi

Rosy disse...

eu amigo tudo que vc escreve realmente são lindos poemas, parabens continue escrevendo poemas maravilhoso com tais, adorei são belos.
beijos de sua amiga de Aracaju.

Rosi

Caolho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.