quinta-feira, 16 de abril de 2009

SALVE O HOMO-CONSUMIDOR! texto próprio


Ante a selvageria para consumir vista na inauguração de mais uma loja de uma rede de supermercados local, me peguei pensando na crise, e também em muitas coisas a respeito dessa coisa desenfreada, essa curiosidade alienada e incrivelmente comum das pessoas, de todas as classes, refletida nas filas a pé, nas filas de carros, na loucura pretensamente organizada do trânsito e nas filas até de bicicletas.

Mais que marcar o sucesso do empreendimento, reflete perfeitamente a nossa teleguiada sociedade contemporânea. Uma sociedade que usa um centro de compras, o tal “Shopping”, como parque de passeios e de diversões, e que com isso não pressiona devidamente as autoridades para a tão necessária revitalização do Parque Marguerita Masini, abandonado pela atual administração municipal, como também para a criação e ocupação segura de outros espaços destinados a isso. Uma sociedade, que em última análise, tem culpa por termos uma praça de aço e cimento brutos, a qual também permitiu alienadamente que chamassem de “Parque Ambiental”. E que vai a inauguração de uma loja de supermercado como se fosse a estréia de mais um filme da Xuxa, ou de mais algum show de dupla sertaneja, nem esse circo que está na cidade chamou tanto a atenção.

A crise, essa fica apenas nas notícias. Os ovos de páscoa acabaram em poucas horas, os cartazes de ofertas brilhando em meio a uma guerra por cestinhas ou carrinhos de compras, famílias inteiras passeando entre as gôndolas como se estivessem na praça do bairro, pais com crianças ao colo, mulheres simples das vilas, arrumadas como se fossem a igreja no domingo, realmente é de espantar!

Aquilo lá é uma loja, que vende produtos, não uma atração artística ou lugar de passeio! Nós devemos usar aquilo para nos servir, quando nos convier, a impressão que fica é de que os empresários fizeram um enorme favor a população inaugurando mais local para o laser das pessoas, e não é isso, se você não tiver dinheiro, você nem entrar lá poderá. Não estou aqui fazendo uma crítica a iniciativa do grupo empresarial, que aliás, merece o sucesso consolidado em anos de trabalho e honestidade, mas sim, criticando como as pessoas encaram uma inauguração de loja que tem o objetivo de tirar-lhes seu dinheiro em troca de mercadorias, uma relação econômica legal, porém, que não deveria jamais, ter esse absurdo sentido lúdico. Isso mostra o quanto nossa sociedade está a mercê do capitalismo, fragilizada psicologicamente no puro impulso: “compro, logo, existo”.

Outra coisa que está me incomodando muito, é a relação que existe entre as operadoras de cartões e os comerciantes, e por conseguinte à nós homo-consumidores. As operadoras cobram aluguel dos comerciantes para eles terem aquelas maquininhas que muitas vezes “quebram o galho” quando esquecemos de ir ao banco, pois bem, nem todos os produtos podem ser comprados por cartão de débito, os comerciantes alegam que as operadoras levam mais de dez dias para liberarem o crédito na conta deles, e então, produtos como cartões telefônicos, recarga de celulares por cartão, cigarros, entre outros, em alguns lugares, mais particularmente em alguns postos de gasolina, não se pode comprar com cartão de débito, o que, na minha opinião de homo-consumidor, é um absurdo, afinal se paro o carro num posto, abasteço de combustível, compro um refrigerante, um chocolate, um cartão de recarga para o meu celular e um maço de cigarros, espero poder pagar com meu cartão de débito, ou de crédito, afinal, essa é uma opção que o comércio coloca a minha disposição, portanto, é meu direito pagar dessa forma, porém, nesse conjunto de coisas, apenas poderei levar no meu cartão, o refrigerante, o chocolate e o combustível, o resto não! Isso é, repito, um absurdo, ou não se aceita cartão para nada, ou se aceita cartão para tudo, inclusive também é meu direito não levar nada, em vista da recusa do estabelecimento, e se já houver abastecido, que retirem inclusive o combustível do tanque do meu carro!

Nós homo-consumidores, além de alienados, fascinados por lojas de supermercado e shopping centers, estamos aceitando cada coisa, que dá medo!