segunda-feira, 14 de maio de 2007

O POPSTAR DA FÉ - texto próprio


Existem alguns aspectos a respeito dessa visita do papa ao Brasil que me fazem ter algumas reflexões, se são profundas ou não, não discuto o mérito, mas acho que tem significados importantes. A questão dessa visita e as atividades públicas do chefe da igreja católica, marca além das naturais peregrinações dos católicos mais fervorosos e autênticos crédulos em que, aquele homem ali é o “sucessor de Pedro” ou tem um auto grau de “divindade” apenas por que hoje é papa, como também marca o espetáculo de uma espécie de show de um popstar, onde muita gente quer somente aparecer na televisão, que aliás ocorre em qualquer show internacional de grandes proporções, mas neste caso do papa, parecem embalados numa “fé” exagerada e mal direcionada que de repente surge somente ao avistar o papa e as câmeras de tv, e disso, eu, aqui na distância e sem tv a cabo e com todas as tvs abertas entupindo as programações com a “visita do papa”, tenho uma impressão de superficialidade, de futilidade até. Por um lado as televisões do País mostrando as pessoas chorando, numa emoção falsa, e com isso vendendo outros milhões em comerciais, e do outro, os motivos pelo qual essas mesmas pessoas choram: Um senhor idoso extremamente conservador, um homem que representou nas últimas décadas e que agora com o cargo máximo na máquina católica, representa, todo o atraso, todo o preconceito, toda a tradição medieval dessa igreja que não tem mais cabimento nos dias atuais, onde o planejamento familiar, as doenças sexualmente transmissíveis e as pesquisas com células tronco, são mais do que marcas evidentes que a igreja precisa rever seus conceitos. E o tal “povo de deus” lá, chorando e legitimando esse conservadorismo todo. Me impressiona essa “juventude católica”, principalmente as meninas, as mulheres, afirmando e legitimando tudo isso através da máscara distorcida dos “bons princípios” e da “moral católica”, aliás, toda moral é relativa, alienadas do fato que sempre foram tratadas por essa igreja (pelas outras também) como seres humanos inferiores, até na gênese descrita na bíblia a mulher é inferior, afinal, é ela que é a culpada pelo pecado original, quando é retratada por Eva que oferece o fruto proibido a Adão, em nenhum momento se questiona por que ele aceitou, mas se fala direto na “serpente” que ilude ela, que foi feita da costela e por isso é mais fraca, menos inteligente e mais propensa ao pecado. E as meninas lá babando e chorando no representante máximo da igreja que não só defende isso, mas exige as suas submissões. A estrutura patriarcal é uma marca, mas a sua perpetuação no século XXI é para mim um paradoxo absurdo. Esse “machismo”, no sentido patriarcal, é a origem da violência contra a mulher, não somente física, mas também quando é representado no salário inferior ao do homem, no julgamento popular das infidelidades conjugais, onde ainda, “o homem pode”, a mulher é puta. Onde tomar pílulas anticoncepcionais e usar camisinha é pecado, e o aborto, mesmo quando a concepção é oriunda de estupro ou de uma relação fugaz, que pode acontecer naturalmente na nossa sociedade contemporânea, é questionada como pecado e crime, pois, as leis são feitas pela maioria masculina, que não engravida, não tem gestação e na hora da separação, vai-se embora, e pagando ou não pensão, se livra do encargo da criação dos filhos, que é sempre, responsabilidade da mulher e mãe. E se tem problemas, é culpa da mulher e mãe, de novo! No maior País católico do mundo, também é possível se pensar a respeito dessas condições, verificar que a estrutura da religião católica ainda é, no pior sentido, intrinsecamente ligada a estrutura política e cultural, baseada em conceitos medievais, que refletem não só nos aspectos aqui abordados, mas em toda a nossa estrutura de sociedade, no nosso cotidiano, no nosso imaginário. Devemos ter consciência disso e questionar, inclusive para que cristãos, como eu, reafirmem a sua fé em Deus e não nessa igreja católica, que de santa não tem nada, e muito menos num pseudo “santo papa”.

Alnary Rocha
14/05/2007

Nenhum comentário: