Confesso que estou chocado!
Não estou chocado com os horrores anônimos que convivemos no dia a dia, esses infelizmente, apenas nos perturbam por alguns instantes, a vida nos exige o cotidiano e a rotina, e assim seguimos a diante depois de um resmungo ou dois.
Estou chocado com alguns dos meus mais próximos, com coisas que ouço, com coisas absurdamente inesperadas. São algumas surpreendentes desconstruções de imagem, que na verdade era um equívoco e que revelam facetas agudas, desconcertantes e que me deixam sem palavras, logo eu, falastrão que sou.
Assuntos como homofobia, xenofobia, “pelefobia”(?), que se transformam em baluartes, colunas, arrimos intransponíveis para ouvidos que antes pareciam ouvir pacientemente, refletir, debater com doçura, delicadeza e firmeza, repentinamente bloqueiam-se, aliena-se na forma mais pura e estéril, tal qual a tantas que sempre criticamos, e que eu permaneço criticando.
A homofobia é uma desgraça, um horror, traduzido na violência gratuita, nos assédios morais, no bullyng, no crime! A xenofobia e os preconceitos raciais, também.
Eu sou homem, heterossexual, brasileiro herdeiro de uma mistura racial maluca e maravilhosa, tenho a pele clara e sou do sul do Brasil. Também sou obeso. Cresci ouvindo piadas de gordos, de carecas, de gente que usa óculos, de gente que usa aparelho odontológico, de bichas, de negros, de loiras, de português, de argentino, de profissões, cursos, jeito de se vestir, de caipiras, etc. Uma infinidade de estereótipos. E em todos os meus 45 anos de vida, poucas vezes me irritei com piadas sobre mim ou sobre gordos.
Acho que a piada não faz mal nenhum e tampouco expressa sentimentos homo fóbicos, xenofóbicos, ou de preconceitos em geral. Tudo depende da conotação, a ofensa não está simplesmente na piada, está na intensão. Os sujeitos podem utilizar-se do maldito politicamente correto para evitar dizer piadas em público, mas as dizem nos seus círculos íntimos, hipócritas. E pior, podem aparentemente ser “politicamente corretos” no que se refere a piadas, mas não contratam o homossexual, o negro ou o gordo, para sua empresa, e se contrata persegue e/ou deixa perseguir com bullyng, permite o assédio moral. E outros ainda, cometem crimes mais graves e hediondos, agressões, espancamentos e assassinatos.
Uma piadinha de dois “bichinhas” como fazia o saudoso Costinha, tinha a intensão apenas de fazer graça, fazer rir, pois mesmos os animais mais circunspectos e favoráveis do maldito politicamente correto, concordarão que “bichinhas” meio “chiliquentas” aos olhos do observador, são muito engraçadas mesmo, pelo próprio jeito de serem, ou não são? E é apenas isso, são pessoas felizes da maneira que são, devem ser respeitadas, devem ser protegidas pela Lei, mas que são engraçados são.
Já piadas raciais podem ter um cunho mais pesado, uma conotação apenas preconceituosa, e essas nem de longe são engraçadas, mas existem piadas que são apenas engraçadas e não devem ofender. Qual a diferença de fazer piadas de judeus e de negros? Ambos os tipos são “raciais” ou étnicas, mas e daí? Por que a de negro o contador pode ir preso e a de judeu não? Por que a piada de português e de argentino é aceita e a de baiano, gaúcho, paulista, mineiro, etc. não?
Que existem hipocrisia e ignorância todos sabemos, mas isso pra mim está deixando de ser uma questão de caráter, estou me chocando com a possibilidade de ser uma doença silenciosa, maldita, esquisita, que pode aparecer do nada, desmontando discursos, desmoronando posturas, demonstrando uma superioridade contida que revela uma condescendência pra lá de preconceituosa.
Esse tal de politicamente correto, vende uma falsa postura de retidão, transformando a diversidade de opiniões (e talvez conseguindo) em uma homogeneização estéril, uma massa gosmenta sem cor e sem vida, onde brancos como eu, se acham “bonzinhos” ao se transformarem em estúpidos politicamente corretos.
Quer preconceito maior que esse?
Alnary Nunes Rocha Filho
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