quarta-feira, 18 de novembro de 2009

CLASSE MÉDIA


Vendo os ataques do PSDB ao PT, na Globo ontem, sobre os problemas do apagão, não pude deixar de perceber que as considerações abaixo tem muita lógica, pois afinal, a mensagem que eles transmitiram é para a Classe Média, a velha formula né: “vamos aproveitar tudo que acontece de ruim pra culpar o PT”, no caso agora o alvo é a Dilma.

O PSDB, latiu ontem como se quando estava no governo nada de ruim tivesse acontecido, se apresentando como os salvadores do País, uma coisa tão rídicula e tão obcena que talvez até mesmo essa Classe Média, que reclama de barriga cheia, possa ficar em dúvida. Mas resista! Pois como o texto abaixo explica de modo didático, as aspirações da CM, se baseiam nas ilusões que consomem através de seus meios restritos de informação, aliados aos seus inerentes preconceitos de classe que apreendem desque nasceram.


O Texto abaixo mostra como entrar pra classe-média, como é o pensamento da classe-média, mesmo sem que a renda seja exatamente da classe-média, confira:


CULPA DO LULA:


"Culpa do Lula" é um expediente médio-classista que caracteriza qualquer coisa que possa dar errado no Brasil. É um híbrido de "transferência de responsabilidades" com "senso de posição social", dois conceitos interligados que compõem a filosofia de vida da Classe Média. Logo, para ingressar neste grupo especial da nossa sociedade, será necessário aprender a vincular o nome do ex-metalúrgico a qualquer evento ou constatação negativa que envolva o Brasil. Afinal, não basta ignorar o presidente. A revista, a tevê, o jornal e tudo aquilo em que você acredita urram para que você o odeie. Obedeça.


Ora, o apagão é culpa do Lula, afinal foi o Lula que inventou e implementou o sistema de energia, claro que a culpa é dele! E mais, da Dilma, afinal não é ela quer ser Presidente, e mais a culpa é do PT, claro, essa entidade demoniaca que até mesmo influencia e corrompe as condições climáticas. E ainda a Dilma fica quieta, que horror, a culpa é deles por eu não poder assistir o Jornal Nacional e a novela.

Um bom estudo de caso consiste na observação das reações e do posicionamento da Classe Média em relação à disputa para sede das Olimpíadas de 2016. Imagine voltar a alguns dias antes da escolha da cidade sede dos Jogos Olímpicos. Como bom membro da Classe Média, você primeiramente duvidaria, com todas as suas forças, da capacidade do governo brasileiro conseguir uma coisa dessas. Culpa do Lula. Um país tão bagunçado assim nunca será capaz de trazer pra cá um evento tão importante, de gente civilizada, uma coisa tão grandiosa e que nos traria tantos benefícios. Nosso presidente é despreparado e a comunidade internacional não o leva a sério. Culpa do Lula de novo.

Com o passar dos dias, a televisão (sua janela límpida e cristalina para a verdade sobre o mundo) lhe informaria que as chances são reais. E se o Rio vencer, não haverá culpa de nada para imputar no Lula. Isto seria capaz de botar em parafuso a cabeça do cidadão, tal qual um software mal programado com erro de sintaxe - um legítimo fatal error. Felizmente o cérebro humano possui mecanismos que impedem esse tipo de conflito: o médio-classista automaticamente começa a reconsiderar sua opinião sobre os Jogos Olímpicos, uma forma de desfazer esse nó nos neurônios.

O Rio está quase ganhando. A partir desse momento, o cidadão de Classe Média já conjectura se ser sede de Olimpíadas é realmente bom para o Brasil. Afinal, somos um país de terceira, violento, corrupto e pobre. Culpa do Lula. Tomara que o Rio perca. Aí, sai o anúncio: o Rio venceu. Agora, o médio-classista tem certeza de que isso é ruim. Além de ser um desrespeito com o Primeiro Mundo, um evento desse porte tem tudo para ser um fracasso em terras brasileiras. Vão desviar esse dinheiro, que deveria ser investido em educação e saúde (finja que você se importa, não interessa se você é usuário de educação e saúde privadas). E o dinheiro dos seus impostos vai pra mão dos políticos, que vão roubar quase tudo. Culpa do Lula (ignore que ele não será o Presidente em 2016).

RACISMO:

Para se tornar um genuíno membro da Classe Média brasileira, você não pode ser racista. Simplesmente porque, na ótica da Classe Média, o racismo não existe no Brasil. Não existe privilégio para nenhuma raça, tudo se pode conseguir através do esforço e do trabalho, seja a pessoa médio-classista ou negra. Convença-se disso.

Racismo hoje, talvez só nos Estados Unidos. Ali sim já se praticou racismo "do bom", racismo "de raiz", onde qualquer um pode encher um neguinho de porrada ou atear fogo na casa dele quando quiser... Mas hoje, nem lá as coisas são como eram... o presidente deles é negro, então os negros não têm do que reclamar.

Tome cuidado! Essa história de cotas, de segregação racial, de discriminação e tratamento diferenciado não pode afetar sua culta percepção do mundo, a percepção de quem recebeu uma bela educação paga nos melhores colégios católicos. Você dever entender isso como mera coisa de livros de História, coisa que ninguém lembra mais, da época em que trouxeram os negros escravizados da África, situação que logo mudou quando a Princesa Isabel assinou a tal parada, e desde então brancos e negros têm acesso ao que quiserem em igual condição.

Para demonstrar a seus estimados colegas da Classe o quanto você faz por merecer a aceitação no grupo, discuta, sempre que surgir o tema, sobre como os negros simplesmente não querem estar na mesma posição dos brancos (lembre-se de representar uma "indignação analítica contida" quando disser isto). Você causará suspiros de admiração, será ouvido e respeitado por seus pares. Argumente que, se você conseguiu chegar onde chegou, qualquer negro também conseguiria, pois este é um país onde o mérito funciona e é a base de tudo. Diga que você acha estranho, mas talvez, por uma questão de gosto pessoal, eles prefiram jogar capoeira a ir para a Universidade (novamente contenha a indignação de palestrante culto). E dê o veredito: se os negros estão reclamando, botando a culpa nos brancos, querendo cotas, se organizando em grupos culturais, movimentos de ações afirmativas e bandas de música black, eles é que são racistas! (neste ponto, você fica autorizado pela audiência a ignorar a autocontradição).

Por fim, para dar o golpe de misericórdia e carimbar de vez seu passaporte ao mundo da Classe Média, fale sobre sua relação com os negros. Decore: você não deve ter nada contra nem a favor deles. Você os trata como qualquer pessoa, e às vezes, com humilde magnificência, até dá bom dia ao jardineiro do prédio e à diarista. Você não namoraria uma pessoa negra, mas até daria uns pegas (se ela não contasse pra ninguém). Você acha que o Governo tinha que criar Escolas Técnicas para "capacitar" pessoas para o trabalho manual, o que é uma ótima alternativa para os negros arrumarem empregos. Defenda o ponto de vista que explica que as Universidades, as vagas de Juiz de Direito e a alta sociedade têm pouquíssimos negros apenas por coincidência, ou até mesmo uma questão estatística: eles existem mesmo em menor número, tanto que você quase não os vê nas festas que frequenta. E, no final, você deve rir dizendo que ainda tem gente que acredita nessa baboseira de "casa grande" e "senzala".

INFORMAÇÃO (leitura da Classe Média)

Para o médio-classista, é muito difícil arrumar um tempo pra ler. A vida atribulada, os negócios, a ralação diária para garantir as contas pagas (graças a Deus), os filhos, a faculdade, nada disso deixa tempo para uma boa leitura. Mas isso tem que ser feito, afinal, a superioridade intelectual é inerente à Classe, e não há como declamar nas seções de cartas da revista semanal, (Veja, por exemplo, muito utilizada como fonte do Médio-classista brasileiro) sobre a falta de instrução do povão se você não ler seus dois livros anuais.

Quem não tem tempo para ler tem que ser seletivo, e ser seletivo é uma especialidade do cidadão da Classe Média. Então, para que todo mundo na Book Store saiba que você é Classe Média, vá direto aos Best-Sellers. Ali você terá segurança para escolher um livro "da moda", um livro que fará todo mundo no seu trabalho te admirar, um livro que todos quererão emprestado. Apareça com algum best-seller da semana e incremente sua reputaçao tanto de "culto" quanto de "antenado", igual àquele cara que introduziu O Código da Vinci na turma do escritório. A lista dos mais vendidos nunca erra.


O leitor médio-classista, antes de tudo, é um eclético. Não importa o tema, não importa o autor: o que estiver na moda, se vender muito, ele compra. Mas sempre há os gêneros que fazem mais sucesso: mistério, esoterismo, espiritismo, política, auto-ajuda sempre são considerados bons livros. Mas se você quer mesmo é botar pra quebrar, pode ir às últimas consequências do médio-classismo e apelar para os "gênios" deste público: Paulo Coelho, que tem mistério, esoterismo e auto-ajuda, tudo misturado; Ali Kamel, que junta política e ficção; Dan Brown, só porque escreveu o tal Código... Mas se você, aspirante à Classe Média, persiste num impasse diante de tantas boas opções da banca de Best Sellers, atente a um macete que nunca falha: na dúvida, compre o que tem a capa mais bonita.


Conclusão:

Para ser da Classe Média, a “Culpa do Lula” precisa ser uma entidade tão sagrada para você, que te faça torcer com ardor e sinceridade para que o Brasil perca. É claro, baseado na sua “profunda” base de dados e discursos teleguiados da Classe Média. Pois só assim você poderá pronunciar "culpa do Lula", em tom de palavras mágicas, sentando em seu sofá quentinho e macio, cercado pelas grades do condomínio, tomando seu café e vestido com seu roupão felpudo. Esta será a sua fórmula para dormir tranquilo depois do Fantástico.

Fonte e fotos www.classemediawayoflife.com.br