quinta-feira, 26 de junho de 2008

NAZI-FACISMO SOCIAL EUROPEU NO SÉC. XXI



Tenho a impressão que o inverno, no calendário oficial, iniciado esses dias está mais frio. As pessoas se queixam mais. Não sei se me acostumei ao calor de João Pessoa, mas também sinto mais frio nesses dias em Campina Grande.
Entretanto, o que me faz nessa madrugada gelada na Rainha da Borborema, a véspera de mais um São João, escrever alguma coisa, é a indignação contra as diretivas contra migrantes da União Européia aprovada essa semana pelo seu parlamento. A Velha Europa não usa mais nenhuma máscara. Suas definições contra os povos do chamado, em outras eras, Terceiro Mundo, mostra os dentes afiados de uma burguesia decadente e sem rumo.
Decadente do ponto de vista moral, pois os valores hegemônicos dos setores dominantes da Velha Europa são reacionários, atrasados, ultrapassados. O sentimento xenófobo-fascista avança em todas as formações políticas dominantes no velho e senil continente. Dos Democrata-cristãos, que de democratas não têm nada e de cristianismo só a parte podre; à Social-democracia falida, que é hoje, em essência, a mesma coisa: neoliberais em suas teorias econômicas e fascistas em seu pensamento social, todos estão contra o povo pobre. Essa é palavra de ordem deles.
Boaventura de Souza Santos, em entrevista recente que repassei a todo mundo essa semana, chama a atenção, com razão, ao “Fascismo Social” de alguns setores políticos na América Latina. Refere-se especificamente aos separatistas bolivianos e aos governos Uribe (Colômbia) e Alam Garcia (Peru). Poderíamos acrescentar os fazendeiros argentinos em conflito aberto contra o governo democrático de Cristina Fernandez; a oposição venezuelana, fascista de nascença e aos jornalistas globais brasileiros que batem sem piedade no que o Governo Lula tem de bom e elogiam freneticamente o que tem ruim. Boaventura diz que vivemos uma situação híbrida entre um sistema político democrático e um fascismo social.
Desculpem os crédulos nessa democracia do Boaventura, que ele fala em radicalizar, mas o fascismo a que ele se refere com exatidão é exatamente o correspondente social dessa chamada democracia, cujo epicentro e a fonte estão nessa Velha Europa que conhecemos hoje, embora tenha evoluído bastante nos EUA.
A Democracia, tal qual a conhecemos hoje, praticada na Europa, nos Estados Unidos e em grande parte do mundo é a expressão política de uma sociedade de classes, onde o fosso entre pobres e ricos, explorados e exploradores aumenta aceleradamente. Esse sistema de democracia representativa está cada vez mais distante de representar legitimamente a sociedade em suas contradições sociais, pois a população pobre aumenta a cada dia, e sua representação política se reduz a cada eleição. Na realidade é a expressão dos interesses do capitalismo atual, em sua fase neoliberal genocida: os trabalhadores mais explorados e submissos do que nunca, os lucros também maiores do que nunca.
Essa situação se radicalizou com o fim da União Soviética. Embora que, na Europa, o avanço do Eurocomunismo e da Social-democracia “light”, a partir da 2ª Guerra, indicavam que os traidores das classes trabalhadoras prestariam fielmente seus serviços à burguesia fascista daquele continente. Para muitos da esquerda que comemoraram o fim da URSS e da experiência socialista do século XX como avanço da democracia restou a opção de mudar de lado. Justificar suas posições aceitando o fascismo social em detrimento de uma democracia representativa cada vez mais aperfeiçoada, dizem esses “democratas radicais”. Para esses não importa que 8 milhões de africanos, sul-asiáticos ou latino-americanos sejam expulsos no chicote da Velha Europa. Justifica-se pela lógica da globalização. Vi um neofacista desses outro dia dando entrevista empalitozado à frente de uma estante repleta de livros culpando os países da África, da América Latina e da Ásia por se ter tantos emigrados dessa parte do mundo na Europa, nos EUA e no Japão. Segundo ele, esses países “não fizeram o dever de casa”. Fascista.
Grande parte da riqueza que exibem esses fascistas europeus foi extraída de nossas terras, de nossa natureza, mas principalmente, e, sobretudo, é uma riqueza produzida à custa do suor e sangue do nosso povo. Quando digo nosso povo me refiro aos povos da América Latina/Caribe e da África. Aqueles bandidos levaram nosso ouro, nossa prata, nossa madeira, nossa biodiversidade, etc. Introduziram capitais aqui e na lógica incorrigível da produção capitalista . Levaram, em forma de mais-valia, produzidas aos montes, nosso suor e nosso trabalho, para construir seus castelos, palácios e um modo de vida baseado no luxo, no esbanjamento, na destruição da natureza e na alienação cultural. É bem verdade que essa rapinagem ocorreu com a participação direta e ativa das classes dominantes locais. Lacaios dessa ordem de exploração sobre as massas trabalhadoras desses países.
Na atual fase do imperialismo, quando as mercadorias de um punhado de grandes empresas, num número menor que 500, inundam o Planeta; quando o capital financeiro dá voltas no mundo atuando como um grande aspirador, sugando violentamente as riquezas de povos e nações; os ricos e poderosos do mundo erguem barreiras para impedir a mobilidade da mão-de-obra. Constroem muros mais altos e mais vigiados do que o Muro de Berlim. Criam leis fascistas para humilhar os pobres do mundo e empurrá-los aos recantos da barbárie. Fascistas.
Disse Jean Salem em entrevista recente, que os europeus jovens da atualidade acreditam piamente que a 2ª Guerra se deu entre EUA e aliados (França e Inglaterra) contra a URSS e os Nazi-fascistas (Alemanha e Itália). É incrível, mas posso dar um testemunho pessoal dessa alienação quase generalizada dos jovens europeus, a partir de um alemão que apareceu por aqui fazendo pesquisas sobre semi-árido. Quando falávamos de História, sua versão me surpreendia. Ele achava que o principal aliado de Hitler na 2ª Guerra havia sido Stálin. Que os dois haviam se unido contra os EUA que, por sua vez, salvara a Alemanha dele do jugo nazista e stalinista. Para ele a Revolução Russa havia sido liderada por Lênin e Stálin, sendo o 1º e o 2º, idênticos política e ideologicamente; e Gorbatchev havia derrubado Stálin. Nunca tinha ouvido em NEP, Relatório Krutchev, etc. Vejam a confusão. Um jovem fazendo doutorado. No conhecimento dele os 70 anos de Revolução Russa haviam sido de stalinismo. Nunca tinha ouvido falar de qualquer conquista social da Rússia Soviética. Quando estudou sobre o totalitarismo na universidade aprendeu que o Nazismo e o Socialismo eram a mesma coisa, tinham sido a mesma experiência em tirania e cometido os mesmos absurdos e crueldades contra as suas populações. Falava em 25 milhões de mortos em campos de concentração soviéticos. Mais 60 milhões de encarcerados na Sibéria. Coisa de doido. Nas minhas contas a União Soviética dele tinha uma população superior a da China. Infelizmente estudado e tido como verdades na Velha Europa e, segundo um colega de almoço meu, em vários cursos médios e superiores no Brasil.
Nos EUA é pior. Bem pior. Hobsbauwm, logo no início do seu Era dos Extremos fala de jovens na Europa e nos EUA que não distinguem a diferença temporal entre a Pré-história e Guerra do Vietnã. Concluo que para estes a barbárie de antigamente é a mesma de agora??!!
Tudo isso, penso, é contra os trabalhadores. A idéia de evidenciar os erros, as falhas, os absurdos que se cometeu em experiências socialistas e olvidar, negar as conquistas, tem um objetivo claro. Mostrar que a única saída para o Planeta é a ordem “democrática” burguesa. Que os ideais socialistas são utopias muito bonitas, mas que, na prática, se converteram em sistemas tirânicos contra os povos. Esse raciocínio pobre e maniqueísta chega ao ponto de culpar Stálin e a experiência soviética dos desmandos do capitalismo hoje. Já ouvi de vários intelectuais que “o avanço neoliberal de hoje é culpa dos erros da União Soviética de ontem”.
Essas idéias invertidas da realidade só pode ser fruto de subjetivismos idealistas. Longe de uma análise sob a perspectiva materialista histórica. Daí que esse pensamento que chamo de subjetivista-reacionário faz coro contra Hugo Chávez e sua Revolução Bolivariana, contra Evo Morales e sua retomada das riquezas nacionais na Bolívia e da luta por oferecer um mínimo de dignidade aos trabalhadores e aos indígenas bolivianos. É contra tudo que acontece de novo e revolucionário no mundo. Claro que essas medidas da União Européia é a resposta encontrada pela direita reacionária a um dos grandes dilemas da atualidade, que o Socialismo do século XXI vislumbra sua saída noutra perspectiva. Enquanto a Velha Europa apresenta uma alternativa baseada na exploração humana, na violência, inspirada no neoxenofobismo de base fascista, o Socialismo do Século XXI liderado por Chávez, Morales, Correia e outros daqui, de Nuestra América, propõe como saída para os problemas desse século o inverso. Propõem uma economia planificada, distributiva, inclusiva, baseada na socialização das riquezas. Numa agricultura voltada para a produção de alimentos, para erradicar a fome do Planeta, sob um sistema cooperativado e solidário, capaz de dignificar essa atividade historicamente tão marginalizada; numa indústria que produza bens que supram as necessidades humanas, vendo-as como um processo em permanente desenvolvimento e infinito, mas que não se baseie na super-exploração (usando o termo de Mandel) do trabalho, no consumismo e na exclusão social. Uma sociedade onde se promova a educação para todos, em todos os níveis. Que se eleve o nível cultural na perspectiva da solidariedade humana, da vida em comunidade, mesmo que esta comunidade seja uma nação ou o Planeta. Da igualdade de direitos. Do respeito à diversidade cultural, étnica, ideológica. Ou seja, o socialismo do século XXI é o novo, que propõe uma nova moral, sob o signo da solidariedade, da paz, da igualdade, da justiça social.
As “diretivas” da UE é a confirmação da vitória do pensamento retrógrado, conservador na Europa. É a evidência do que se tornaram os partidos socialistas de Espanha e Portugal; meros apologistas da direita alemã e francesa. Perderam a compostura. Venderam sua alma e sua história por alguns tostões, prostituindo-se juntos com um mar de covardes e exploradores do trabalho escravo de nossa triste época.
Esses facínoras haverão de ser derrotados pelo seu povo. Uma nova era de dignidade da humanidade haverá de se abrir contra essas aves de rapina. Os povos pobres do mundo haverão de reagir. Nós continuamos tendo as riquezas naturais do Planeta. Hoje, mais do que nunca, matéria prima de tudo que venha a se construir na Terra. Na minha modesta opinião, eles precisam mais da gente do que a gente deles. Precisamos nos voltar para nossa realidade. Sem xenofobismo. Sem negar o que eles podem contribuir para o nosso desenvolvimento. Mas com autonomia e firmeza. Baseado na justiça. Façamos o dever de casa. Destronemos do poder os lacaios exploradores de nosso povo, sócios-menores desses gangsteres internacionais. Mais do que nunca o octagenário Che precisa ser lembrado. Onde houver um injustiçado que nos aticem a indignação e a disposição de lutar contra a exploração. Mais do que nunca, a palavra de ordem de Marx precisa ser bradada: “Proletários de todo o mundo uni-vos”.

Professor José Jonas Duarte da Costa - UFPB
Gentilmente cedido por Valdecir Bordignon-MST-PR.

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