quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

PAI E FILHO - diálogo em poemas de 1985




Existem coisas que se não fossem os registros, nem que sejam os mais precários, se perderiam no tempo e não poderiamos recuperar, muitas coisas não se recuperam, como a palavra venenosa que se diz de cabeça quente, a briga com a família por razões tolas, etc...


Os poemas abaixo, foram escritos por mim e por meu pai, em 1985, por essa época eu tinha 18 anos de idade, namorava minha ex-esposa, da qual 10 anos depois estava separado. Meu pai queria que eu estudasse e fosse mais devagar com a relação, mas naquela época, aquela relação era só o que importava, então, ele foi radical, me mandou pra Curitiba e proibiu o namoro, é óbvio que eu não o obedeci e muitas vezes brigamos, até que um dia houve uma briga muito feia, coisas ofensivas e desrespeitosas foram ditas, que eu mais tarde me arrependi, e a forma que encontrei para falar aos meus pais, principalmente ao meu pai, sobre isso, foi escrevendo o que irão ler abaixo.
Eu tinha 18 anos!
Então, de alguma forma meu pai descobriu o escrito que era uma pretensa canção, rock, é claro! E escreveu um lindo e amoroso poema em resposta, então eu me emocionei e fiz a tréplica.
Reminiscências, como diz meu querido Tio Horácio, mas nostalgia não faz mal a ninguém e também, é bom lembrar meu pai, alías, não se passa um dia sem que eu o lembre e o cite.

E aqui eu registro, eu e meu pai, dialogando em poemas!


Haaa...em tempo, se não fosse minha irmã Isabella, encontrar os papeis no qual eu e meu pai haviamos devidamente datilogafado, e tivesse scanneado, muito provavelmente essas "pérolas" haveriam se perdido.


Escrevi...


PERDIDO DENTRO DE MIM

Quando olho no espelho
Começo a pensar na minha vida
Vejo a cara de garoto que tenho
E tento curar aquela ferida

Penso em tudo que tenho
Dinheiro, carro e vida folgada
Mas a paz, a paz ainda não veio
E eu tenho tudo, e não tenho nada

Porque me castigam tanto
Se eu sei que não sou ruim assim
Pra eles, isso eu canto
Eu sei bem o que quero pra mim

É gozada mesmo a minha vida
Começo a rir da minha cara
Vou dar nisso uma invertida
Vou tomar a minha gata proibida

As pessoas que tanto me rodeiam
Falam tanto de suas experiências
Que me fazem entrar num ruim devaneio
Enquanto me cobram fazendo tantas exigências

Quando irei me sentir útil
Fazendo algo que me realizará
Quando sairei dessa vida fútil
Que por fim me apodrecerá

Alnary Filho
18/09/1985


Meu pai escreveu...


QUARTETOS DO CORAÇÃO
Em resposta ao seu: PERDIDO DENTRO DE MIM


Como li sem permissão o seu rimado
Creio também, dever dar meu recado
Talvez, nem tão lindo e bem feito
Porém, com muito amor e respeito

Olha filho, não desejo mais magoá-lo,
Essa será a última vez que lhe falo:
“as coisas do coração, do amor e da paixão,
muitas vezes, castigam-nos sem dó, nem perdão.”!

Diz parte de um velho ditado que permanece:
“existe razão que a própria razão desconhece”,
O desconhecido, só o futuro revelará,
Quando erramos ou acertamos, que será?

Porém, de tudo esteja certo filho meu,
A certeza que sempre estarei ao lado seu,
Na matéria fria, ou em meu espírito
Junto estarei, aqui ou até do infinito!


De um pai desesperado
Que sempre o amou!

Ponta Grossa, 18 de Setembro de 1985

Alnary Nunes Rocha


Eu repliquei...


REDIMIDO

Só depois que tudo passou
Eu posso ver o meu passado
Um rolo que ninguém nunca imaginou
Mas que me deixou muito magoado

Eu sei que só eu tenho culpa
Mas eu não tinha cabeça
É, eu tenho que ir a luta
Antes que minha memória desapareça

Não queria que tivesse de ser assim
Mas a verdade tenho de assumir
Realmente não sei o que vai ser de mim
Não sei como, mas vou me redimir

Não que eu deva algo pra alguém
Mas a vida é uma armadilha
É impossível viver sem ninguém
É que eu tenho uma família

E ser legal não custa nada
Como eu devo algo pra mim
Agora é hora da virada
Vou conseguir viver assim

Alnary Rocha
18/09/1985

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